PROFESSOR /ESCRITOR E DRAMATURGO
ARIANO SUASSUNA
BIOGRAFIA
Ariano Vilar
Suassuna nasceu na então Cidade da Paraíba, hoje denominada João Pessoa, no dia
16 de junho de 1927, filho de Cássia Vilar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai
deixa o governo da Paraíba e a
família passa a morar no Sertão, na Fazenda
Acauã, em Aparecida da Paraíba.
Com a Revolução de 1930,
seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e
a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade,
Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de
mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma
das marcas registradas também da sua produção teatral.
A partir de
1942 passou a viver no Recife, onde terminou,
em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano, no Colégio Americano
Batista e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de
Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro
do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher
Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de
Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de
Barro foi montada no ano seguinte.
Em 1950,
formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de
João da Cruz. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de
novo para Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951.
Em 1952, volta a residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia,
sem abandonar, porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba
(1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o
projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o
texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956,
abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade
Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento
Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em
1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A
Pena e a Lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
Em 1959, em
companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que
montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina
(1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de
dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende
a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a
Cultura Brasileira. Aposenta-se como professor em 1994.
Membro
fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo
Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969). Ligado
diretamente à cultura iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”,
interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão
populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem
uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em
Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música
Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e
escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel
Arraes (1994-1998).
Entre
1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do
Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado
nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele
de “romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano
Suassuna construiu em São José do
Belmonte, onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do
Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com
3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o
profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São
José, o padroeiro do município.
Membro da Academia
Paraibana de Letras e Doutor Honoris Causa da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (2000).
Em 2004, com
o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão:
Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na
Sala José de Alencar.
Ariano
Suassuna, durante evento pró-equidade de gênero e
diversidade,
em Brasília, 2007.
Em 2002,
Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano; em 2008, foi novamente
tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em
2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida será
o tema da escola de samba Pérola Negra em
São Paulo.
Em 2006, foi
concedido título de doutor honoris causa pela Universidade
Federal do Ceará, mas que veio a ser entregue apenas em 10 de junho
de 2010, às vésperas de completar 83 anos. "Podia até parecer que não
queria receber a honraria, mas eram problemas de agenda", afirmou Ariano,
referindo-se ao tempo entre a concessão e o recebimento do título.
Durante o
mandato de Eduardo Campos,
Suassuna foi assessor especial do Governo de Pernambuco até abril de 2014.
Ariano
Suassuna era torcedor do Sport Club do
Recife.
MORTE
Ariano
morreu no dia 23 de julho de 2014 no Real
Hospital Português, no Recife, onde deu entrada na noite do dia 21 vítima de um acidente
vascular cerebral (AVC), passando por procedimento cirúrgico
com colocação de dois drenos para controlar a pressão intracraniana. Ele ficou
em coma e respirando por ajuda de aparelhos.
Estudos
Em 1942,
ainda adolescente, Ariano Suassuna muda-se para cidade do Recife, no vizinho estado de Pernambuco, onde passou a residir
definitivamente. Estudou o antigo ensino ginasial no renomado Colégio
Americano Batista, e o antigo colegial (ensino médio), no
tradicionalíssimo Ginásio
Pernambucano e, posteriormente, no Colégio Oswaldo Cruz.
Posteriormente, Ariano Suassuna concluiu seu estudo superior em Direito (1950), na célebre Faculdade
de Direito do Recife, e em Filosofia (1964).
De formação
calvinista e posteriormente agnóstico, converteu-se ao catolicismo, o que viria
a marcar definitivamente a sua obra.
Ariano
Suassuna estreou seus dons literários precocemente no dia 7 de outubro de 1945,
quando o seu poema "Noturno" foi publicado em destaque no Jornal do
Commercio do Recife.
ADVOCACIA E TEATRO
Na Faculdade
de Direito do Recife, conheceu Hermilo Borba Filho,
com quem fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua
primeira peça, Uma mulher vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam
as harpas de Sião (ou O desertor de Princesa) foi montada
pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Seguiram-se Auto de João da
Cruz, de 1950, que recebeu o Prêmio Martins Pena, o aclamado Auto
da Compadecida, de 1955, O Santo e a Porca - O Casamento Suspeitoso,
de 1957, A Pena e a Lei, de 1959, A Farsa da Boa Preguiça,
de 1960, e A Caseira e a Catarina, de 1961.
Entre 1951 e
1952, volta a Sousa, para curar-se de uma doença pulmonar. Lá escreveu e montou Torturas
de um coração. Em seguida, retorna a Recife, onde, até 1956, dedica-se à
advocacia e ao teatro.
Em 1955, Auto
da Compadecida o projetou em todo o país. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi diria que a peça é "o
texto mais popular do moderno teatro brasileiro". Sua obra mais
conhecida, já foi montada exaustivamente por grupos de todo o país, além de ter
sido adaptada para a televisão e para
o cinema.
Em 1956,
afasta-se da advocacia e se torna professor de Estética da Universidade
Federal de Pernambuco, onde se aposentaria em 1994. Em 1976, defende
sua tese de livre-docência, intitulada "A Onça castanha e a Ilha Brasil:
uma reflexão sobre a cultura brasileira".
Ariano
acredita que: "Você pode escrever sem erros ortográficos, mas ainda
escrevendo com uma linguagem coloquial."
Academia
Paraibana de Letras
Assumiu a
cadeira 35 na Academia
Paraibana de Letras em 9 de outubro de 2000, cujo patrono é Raul
Campelo Machado, sendo recepcionado pelo acadêmico Joacil
de Brito Pereira.
OBRAS SELECIONADAS
- Uma mulher vestida de Sol, (1947);
- Cantam as harpas de Sião ou O
desertor de Princesa, (1948);
- Os homens de barro, (1949);
- Auto de João da Cruz, (1950);
- Torturas de um coração, (1951);
- O arco desolado, (1952);
- O castigo da
soberba, (1953);
- O Rico Avarento, (1954);
- Auto da
Compadecida, (1955);
- O casamento suspeitoso, (1957);
- O santo e a porca, (1957);
- O homem da vaca e o poder da
fortuna,
(1958);
- A pena e a lei, (1959);
- Farsa da boa preguiça, (1960);
- A Caseira e
a Catarina, (1962);
- As conchambranças de Quaderna, (1987);
- Fernando e Isaura, (1956)"inédito até
1994".
AUTO DA COMPADECIDA
Escrito em 1955 e encenado, pela primeira vez, em 1956, o Auto da Compadecida consagrou Ariano Suassuna como escritor e autor teatral. Prosa Poesia e Arte transcreve, aqui, a cena final, do julgamento, onde a Compadecida (Nossa Senhora) é a advogada que se contrapõe ao Encourado (o demônio), ante o juiz Manoel (Jesus Cristo, que no auto é negro).
Por Ariano Suassuna
UMA MULHER VESTIDA DE SOL
O PARQUE SOLON DE LUCENA "LAGOA" É UM DOS MAIS CONHECIDOS CARTÕES POSTAIS DE JOÃO PESSOA, GANHOU ESTE MONUMENTO EM HOMENAGEM À CULTURA NORDESTINA. É UMA ESCULTURA EM FORMATO DE "TOTEM". PENSADA E REPRODUZIDA PELO ARTISTA VISUAL MIGUEL DOS SANTOS, QUE DEFINE SUA OBRA COMO UMA HOMENAGEM AO IMAGINÁRIO DO POVO PARAIBANO E BRASILEIRO.
O MONUMENTO É INTITULADO DE "A PEDRA DO REINO", REFERÊNCIA À OBRA DO ESCRITOR E DRAMATURGO PARAIBANO ARIANO SUASSUNA. A ESCULTURA TEM CERCA DE OITO METROS E CINQUENTA CENTÍMETROS FOI CONFECCIONADA A PARTIR DE TRÊS ELEMENTOS: CONCRETO, AÇO E CERÂMICA. NO TOPO, DOIS ROSTOS, UM VOLTADO PARA A REGIÃO DO SERTÃO, QUE RETRATA ARIANO SUASSUNA, E O OUTRO EM DIREÇÃO AO MAR, CUJA FIGURA É A DE JOÃO SUASSUNA, PAI DE ARIANO E TAMBÉM EX-PRESIDENTE DA PARAÍBA, CARGO HOJE INTITULADO DE GOVERNADOR.
PARQUE SOLON DE LUCENA -"LAGOA"
Romance
- A História de amor de Fernando e
Isaura, (1956);
- O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do
Sangue do Vai-e-Volta, (1971);
- História d'O Rei Degolado nas
caatingas do sertão /Ao sol da Onça Caetana, (1976)
Palestras
- Defesa contra a teoria da
evolução.
Poesia
- O pasto incendiado, (1945-1970);
- Ode, (1955);
- Sonetos com mote alheio, (1980);
- Sonetos de Albano Cervo Negro, (1985);
- Poemas (antologia), (1999).
Violeiros e cirandas: poesia improvisada
Este texto foi escrito a pedido do jornalista Aluízio Falcão como parte explicativa da coleção Música Popular do Nordeste, de 1975 (ela compunha um mapeamento musical do Brasil organizado com Marcus Pereira). Mais tarde, em 1997, foi publicado na revista Estudos Avançados.
Por Ariano Suassuna
A poesia popular do Nordeste pode se classificar em dois grupos bem caracterizados: a literatura de cordel e a poesia improvisada dos cantadores. O nosso romanceiro é, sem dúvida, originário do ibérico, mas tem hoje fisionomia própria, inclusive pela riqueza e variedade das formas de estrofes usadas. Dessas estrofes, as mais utilizadas são a sextilha, a décima de sete sílabas e o martelo agalopado, décima de dez sílabas cuja estrutura é a mesma usada no século de ouro na Península Ibérica.
Tais estrofes são as mais importantes tanto nos romances quanto nos desafios da poesia improvisada, existindo ainda, porém, o mourão, o galope à beira-mar, o martelo gabinete (sextilha de dez sílabas) entre outras formas menos importantes. Entretanto, apesar de se tornarem cada vez mais raros, ainda encontramos no sertão alguns romances ibéricos ou iberizantes compostos na forma monorrímica.
A cantoria, ou desafio, é a forma usada para a poesia improvisada. Dois cantadores, de viola em punho, às vezes durante toda uma noite, improvisam à maneira dos tensons provençais. O que existe de melhor nesses desafios é o tom jocoso, satírico.
– Vá me buscar um carneiro
que seja mocho e pelado,
com uma estrela na testa,
com os quatro pés manchados,
de rabo branco e comprido
e com o couro malhado.
– Meu colega, me desculpe,
você errou o terreiro.
Vá bater em outra porta,
procurar noutro roteiro:
encomenda como essa
só feita ao pai-de-chiqueiro
Esse tom satírico e jocoso, aliás, reaparece também na literatura de cordel, nos romances compostos, impressos em folhetos e vendidos nas feiras. Os ciclos desse romanceiro podem ser assim agrupados: ciclos heróico; maravilhoso; religioso e de moralidades; cômico, satírico e picaresco; histórico e circunstancial; de amor e fidelidade. No ciclo cômico, satírico e picaresco reaparece o mesmo tom jocoso, às vezes beirando a obscenidade, como sempre acontece nas formas de literatura popular. Disso é exemplo a seguinte sextilha, do cantador paraibano Firmino de Paula e citada por Zita de Andrade Lima:
Atirou-lhe à queima-roupa
porém naquele momento
o menino desviou-se
e veloz igual ao vento
deu-lhe um grande pontapé
no valor do casamento.
No ciclo heróico, constituído pelos romances épicos e trágicos e, principalmente, pelas gestas do cangaço, encontramos estrofes como esta:
O Alferes pegou do rifle,
ficou o mundo tinindo,
era o dedo amolegando
o fumaceiro cobrindo
batendo as balas em Vilela,
voltando prá trás, zunindo.
Às vezes, porém, no ciclo heróico, no meio de um romance épico – ou em que se misturam o épico e o maravilhoso – como em A chegada de Lampeão no inferno, aparece o cangaceiro heróico, como se fosse um sansão sertanejo, armado com uma caveira de boi; o cantador aproveita para misturar ao tom heróico um acento cômico, como na seguinte estrofe de sete pés:
Lampeão pode pegar
uma caveira de boi
Sacudiu na testa dum,
ele só fez dizer: Oi!
Ainda correu dez braças
e caiu, enchendo as calças,
mas eu não sei do que foi!
No ciclo cômico, satírico e picaresco, encontramos, às vezes, títulos de sabor clássico como: A desventura de um corno ganancioso, que parece nome de um conto de Boccaccio. O que, aliás, não é de admirar, por encontrarmos, no romanceiro nordestino, devidamente versadas, a História de dona Genevra, tirada do Decameron, e a História de Romeu e Julieta. No ciclo do maravilhoso, encontramos histórias do tipo A moça que virou cobra e A mãe de calor de figo, como também todas "as pelejas em que o Diabo aparece". O Romance do pescador que tinha fé em Deus é do ciclo religioso e de moralidades. No ciclo histórico e circunstancial agrupam-se os comentários dos poetas populares aos acontecimentos do dia: é o caso do folheto A renúncia do presidente Jânio Quadros.
A importância do romanceiro popular do Nordeste é imensa e cresce a cada dia. Quando não sua forma, seu espírito está presente em toda a melhor literatura nordestina, bastando citar, no romance, o nomes de José Lins do Rego e Guimarães Rosa, ou de Joaquim Cardozo e João Cabral de Melo Neto, na poesia, entre os que criaram sua obra na linhagem do romanceiro para mostrar como essa literatura popular é importante para que se entenda a Arte brasileira e o próprio Brasil. É que, com a História de Carlos Magno e os doze pares de França e outros vestígios do romanceiro carolíngio, assim como com histórias européias, árabes etc., o romanceiro nordestino é uma espécie de ligação entre a tradição mediterrânea e o povo brasileiro de hoje.
Em sua poesia encontramos décimas quase surrealistas, como esta:
No tempo em que os ventos suis
faziam estragos gerais
fiz barrocas nos quintais
semeei cravos azuis.
Nasceram esses tafuis amarelos como cidro
Prometi a Santo Izidro
levá-los, quando lá for
com muito jeito e amor
em uma taça de vidro.
Ou, então, martelos como este.
Quando as tripas da terra mal se agitam
e os metais derretidos se confundem
e os escuros diamantes que se fundem
das crateras ao ar se precipitam
as vulcânicas ondas que vomitam
grossas bagas de ferro incendiado
em redor deixam tudo sepultado
só com o som da viola que me ajuda,
treme o sol, treme a terra, o tempo muda
eu cantando o martelo agalopado.
E um romanceiro que tem versos como este não precisa de mais nada para demonstrar importância.
Fonte: Estudos Avançados, Vol. 11, nº 29, Janeiro/abril de 1997
23 DE JULHO
DE 2014, MORREU O ILUSTRE PARAIBANO PROFESSOR, ESCRITOR, POETA E DRAMATURGO ARIANO SUASSUNA AOS 87 ANOS.
(*1927 +2014)
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POETA AUGUSTO DOS ANJOS
BIOGRAFIA
Augusto de Carvalho Rodrigues dos
Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de
1884. Aprendeu com seu pai, bacharel, as primeiras letras. Fez o curso
secundário no Liceu Paraibano, já sendo dado como doentio e nervoso por
testemunhos da época. De uma família de proprietários de engenhos, assiste, nos
primeiros anos do século XX, à decadência da antiga estrutura latifundiária,
substituída pelas grandes usinas. Em 1903, matricula-se na Faculdade de Direito
do Recife, formando-se em 1907. Ali teve contato com o trabalho "A Poesia
Científica", do professor Martins Junior. Formado em direito, não advogou;
vivia de ensinar português. Casou-se, em 04 de julho de 1910, com Ester Fialho.
Nesse ano, em conseqüência de desentendimento com o governador, é afastado do
cargo de professor do Liceu Paraibano. Muda-se para o Rio de Janeiro e
dedica-se ao magistério. Lecionou geografia na Escola Normal, depois Instituto
de Educação, e no Ginásio Nacional, depois Colégio Pedro II, sem conseguir ser
efetivado como professor. Em 1911, morre prematuramente seu primeiro filho. Em
fins de 1913 mudou-se para Leopoldina MG, onde assumiu a direção do grupo
escolar e continuou a dar aulas particulares. Seu único livro, "Eu",
foi publicado em 1912. Surgido em momento de transição, pouco antes da virada
modernista de 1922, é bem representativo do espírito sincrético que prevalecia
na época, parnasianismo por alguns aspectos e simbolista por outros.
Praticamente ignorado a princípio, quer pelo público, quer pela crítica, esse
livro que canta a degenerescência da carne e os limites do humano só alcançou
novas edições graças ao empenho de Órris Soares (1884-1964), amigo e biógrafo
do autor.
Cético em
relação às possibilidades do amor ("Não sou capaz de amar mulher alguma, /
Nem há mulher talvez capaz de amar-me"), Augusto dos Anjos fez da obsessão
com o próprio "eu" o centro do seu pensamento. Não raro, o amor se
converte em ódio, as coisas despertam nojo e tudo é egoísmo e angústia em seu
livro patético ("Ai! Um urubu pousou na minha sorte"). A vida e suas
facetas, para o poeta que aspira à morte e à anulação de sua pessoa, reduzem-se
a combinações de elementos químicos, forças obscuras, fatalidades de leis
físicas e biológicas, decomposições de moléculas. Tal materialismo, longe de
aplacar sua angústia, sedimentou-lhe o amargo pessimismo ("Tome, doutor,
essa tesoura e corte / Minha singularíssima pessoa"). Ao asco de volúpia e
à inapetência para o prazer contrapõe-se porém um veemente desejo de conhecer
outros mundos, outras plagas, onde a força dos instintos não cerceie os vôos da
alma ("Quero, arrancado das prisões carnais, / Viver na luz dos astros
imortais").
A métrica
rígida, a cadência musical, as aliterações e rimas preciosas dos versos
fundiram-se ao esdrúxulo vocabulário extraído da área científica para fazer do
"Eu" —
desde 1919 constantemente reeditado como "Eu e outras poesias"
— um livro que sobrevive, antes de tudo, pelo rigor da forma. Com o tempo,
Augusto dos Anjos tornou-se um dos poetas mais lidos do país, sobrevivendo às
mutações da cultura e a seus diversos modismos como um fenômeno incomum de
aceitação popular. Vitimado pela pneumonia aos trinta anos de idade, morreu em
Leopoldina em 12 de novembro de 1914.
O poema acima foi incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século",
organizado por Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001,
pág. 61.
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VERSOS ÍNTIMOS
1 - Última Quimera
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um
fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém
causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
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2 - Psicologia
de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto
dos Anjos
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3 - Solitário
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -
Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
Augusto dos Anjos
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4 - Ecos D'Alma
Oh! madrugada de ilusões, santíssima,
Sombra perdida lá do meu Passado,
Vinde entornar a clâmide puríssima
Da luz que fulge no ideal sagrado!
Longe das tristes noites tumulares
Quem me dera viver entre quimeras,
Por entre o resplendor das Primaveras
Oh! madrugada azul dos meus sonhares.
Mas quando vibrar a última balada
Da tarde e se calar a passarada
Na bruma sepulcral que o céu embaça
Quem me dera morrer então risonho
Fitando a nebulosa do meu sonho
E a Via-Látea da Ilusão que passa!
Augusto
dos Anjos
A Esperança
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a Crença do fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro -- avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar; descansa!
Augusto
dos Anjos
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5 - Primavera
Primavera gentil dos meus amores,
- Arca cerúlea de ilusões etéreas,
Chova-te o Céu cintilações sidéreas
E a terra chova no teu seio flores!
Esplende, Primavera, os teus fulgores,
Na auréola azul, dos dias teus risonhos,
Tu que sorveste o fel das minhas dores
E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!
Cedo virá, porém, o triste outono,
Os dias voltarão a ser tristonhos
E tu hás de dormir o eterno sono,
Num sepulcro de rosas e de flores,
Arca sagrada de cerúleos sonhos,
Primavera gentil dos meus amores!
Augusto
dos Anjos
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POETA RONALDO CUNHA LIMA
RONALDO JOSÉ DA CUNHA LIMA (*Guarabira, 18 de março de 1936 +João Pessoa, 7 de julho de 2012)
foi um Advogado, Promotor de Justiça, Professor, Poeta e Político brasileiro. Durante sua carreira política foi Vereador de Campina Grande, Deputado Estadual da Paraíba por dois mandatos
consecutivos, Prefeito de
Campina Grande em duas ocasiões, Governador da Paraíba, Senador da República e eleito Deputado Federal por duas vezes. Também
é pai do ex-governador e atual Senador da Paraíba, Cássio Cunha Lima.
Durante o período no qual era Governador cometeu uma
tentativa de homicídio, disparando
três tiros contra o seu antecessor, Tarcísio, em um restaurante da capital João Pessoa, no episódio conhecido como
"Caso Gulliver". Em 31 de outubro de 2007 renunciou ao
cargo de Deputado Federal para não ser julgado pelo processo do "Caso
Gulliver" no Supremo
Tribunal Federal.
Morreu aos 76 anos, devido a um câncer no pulmão do qual sofria desde 2011.
BIOGRAFIA
Estudou no Colégio Pio X e no Colégio Estadual do Prata em Campina Grande. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Paraíba. Foi casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima com quem tiveram 4 filhos: Ronaldo Cunha Lima Filho, Cássio Cunha Lima, Glauce (Gal) Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.
Em 1951 iniciou a vida como vendedor de jornais, depois como garçom, no restaurante do seu irmão Aluísio, e trabalhou na Associação Comercial de Campina Grande, na Rede Ferroviária do Nordeste e no Cartório de Dona Nevinha Tavares. Tudo isso para custear os seus estudos e ajudar nas despesas domésticas, porque o seu pai, Demóstenes Cunha Lima ex-prefeito de Araruna, faleceu muito cedo, deixando sua mãe Dona "Nenzinha" com a responsabilidade de criar e educar uma família numerosa. Ronaldo também desde jovem, já demonstrava vocação para a política.
CARREIRA POLÍTICA
Ainda estudante, Ronaldo foi representante estudantil e vice-presidente do Centro Estudantil Campinense.
Começou a sua carreira política sendo Vereador de Campina Grande pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Deputado Estadual por dois mandatos, e Prefeito eleito em 1968, já pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 14 de março de 1969 teve os seus direitos políticos cassados, passando dez anos no ostracismo, indo para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro recomeçando a sua carreira de advogado. Anistiado, em 1982, foi reconduzido à Prefeitura de Campina Grande pelo voto popular, no seu mandato à frente da PMCG (1983/1989) teve como Vice-Prefeito Antônio de Carvalho Souza, um vice muito atuante na Administração, o qual assumiu a titularidade da gestão por trinta e três vezes no curso do mandato. Reconstruiu o Parque do Povo que por sua vez foi idealizado e primeiramente construído pelo ex-Deputado Federal Enivaldo Ribeiro, a terceira adutora, a Casa do Poeta, dentre outras obras. Foi Governador do Estado da Paraíba (1991/1994), Senador da República (1995/2002) e foi Deputado Federal, eleito em pela 1ª vez em 2002 com mais de 95 mil votos e reeleito em 2006 com 124.192 votos.
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ESCRITOR E POETA JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA
JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA (*Areia, 10 de janeiro de 1887 +João Pessoa, 10 de março de1980)foi um escritor (romancista,ensaísta, poeta e cronista), político, advogado, professor
universitário, folclorista e sociólogo brasileiro.
Formou-se em direito pela Faculdade
de Direito do Recife em 1908, tendo sido promotor público da
comarca do Recife, promotor público da comarca de Sousa na Paraíba, procurador geral do estado da
Paraíba aos vinte e quatro anos de idade, secretário de governo, deputado
federal, interventor, ministro da
Viação e Obras Públicas nos dois governos de Getúlio Vargas, senador, ministro do Tribunal de
Contas da União, governador da Paraíba, fundador da Universidade
Federal da Paraíba e seu primeiro reitor. Américo chegou a ser
pré-candidato à Presidência da
República, apoiado por Vargas para as eleições de 1938, porém as
mesmas não aconteceram, em razão do golpe dado por Getúlio em 1937, que deu
início à ditadura do Estado Novo.
Destacou-se no cenário nacional com a publicação de A bagaceira (1928), romance
inaugural do chamado Romance de 30.
O documentário "O Homem de Areia" (1981) de Vladimir Carvalho, conta a trajetória de
vida de José Américo de Almeida. Pouco depois do início, Jorge Amado e sua esposa aparecem e
homenageiam José Américo e sua obra "A Bagaceira". Amado diz que se
não tivesse lido o livro de José Américo, não teria escrito Cacau.
José Américo concede uma longa entrevista na qual responde
perguntas sobre momentos históricos da política do país que testemunhou e
protagonizou, iniciando com a crise na Paraíba que culminou com o assassinato
do presidente João
Pessoa. Afirma que, como político, não era eficiente no dia a dia
dos governos, mas era capaz de arregimentar e aglutinar as massas com seus
discursos em praça pública. Cita a frase de sua autoria "Vamos fazer a
política dos pobres, pois a dos ricos já está feita". O escritor Ariano Suassuna aparece em breve
depoimento comentando os fatos narrados por José Américo (de quem era
adversário político) em suas memórias sobre João Dantas (que assassinou João
Pessoa). José Américo também fala sobre Luis Carlos Prestes.
Disse que a Coluna Prestes só
fazia inimigos por onde passou no Nordeste, em função de constantemente
praticarem roubos de bens da populações simples. Ele conta que dizia que se
fossem fazer a revolução, "que não roubassem cavalos!".
Outra personalidade com quem o escritor conviveu foi Getúlio
Vargas. Depois de chegar ao poder após a Revolução de 1930, José Américo sofreu
um golpe de Getúlio ao ter a sua candidatura ao Governo em 1937 impedida pela
instalação do Estado Novo. Em
1945, José Américo deu uma entrevista em favor da liberdade da imprensa e com a
repercussão da mesma, conta que Getúlio achou que ele contasse com uma grande
força por trás, o que teria favorecido a saída do governo do ditador pouco
tempo depois. Em 1954, José Américo, que tinha reatado com Getúlio e assumira
um ministério, era favorável à renúncia, quando recebeu a notícia do suicídio
do Presidente. Já nos anos finais da vida, quando se falava em Abertura política,
José Américo é indagado sobre a Reforma Agrária e a distribuição das
terras banhadas pelos açudes. Construções,
aliás, sobre os quais se dizia que só beneficiavam as terras dos grandes
proprietários nordestinos.
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ESCRITOR JOSÉ LINS DO REGO
José Lins do Rego Cavalcanti (*Pilar, 3 de junho de 1901 — +Rio
de Janeiro, 12 de setembro de 1957) foi um escritor brasileiro que, ao lado
de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Jorge Amado, figura como um dos romancistas
regionalistas mais prestigiosos da literatura
nacional. Segundo Otto Maria Carpeaux,
José Lins era "o último dos contadores de histórias." Seu
romance de estreia, Menino de Engenho (1932), foi
publicado com dificuldade, todavia logo foi elogiado pela crítica.
José Lins escreveu cinco livros a que nomeou "Ciclo
da cana-de-açúcar",
numa referência ao papel que nele ocupa a decadência do engenho açucareiro nordestino,
visto de modo cada vez menos nostálgico e mais realista pelo autor: Menino de
Engenho, Doidinho (1933), Banguê (1934), O Moleque Ricardo (1935), e Usina (1936). Sua obra
regionalista, contudo, não se encaixa somente na denúncia sócio-política, mas,
como afirmou Manuel
Cavalcanti Proença, igualmente em sua "sensibilidade à flor da
pele, na sinceridade diante da vida, na autenticidade que o
caracterizavam."
José Lins nasceu na Paraíba; seus antepassados, que eram em
grande parte senhores de engenho,
legaram ao garoto a riqueza do engenho de açúcar que lhe ocupou toda a
infância. Seu contato com o mundo rural do Nordeste lhe deu a oportunidade de,
nostalgicamente e criticamente, relatar suas experiências através das
personagens de seus primeiros romances. Lins era ativo nos meios intelectuais.
Ao matricular-se em 1920 na Faculdade
de Direito do Recife ampliou seus contatos com o meio literário
de Pernambuco, tornando-se amigo de José Américo de
Almeida (autor de A Bagaceira). Em 1926, partiu para
o Maceió, onde se reunia com Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio
Buarque de Holanda e Jorge de Lima. Quando partiu para o Rio de Janeiro, em 1935, conquistou ainda
mais a crítica e colaborou para a imprensa, escrevendo para os Diários Associados e O Globo.
É atribuída a José Lins do Rego a invenção de um novo
romance moderno brasileiro. O conjunto de sua obra é um marco histórico
na literatura regionalista por
representar o declínio do Nordeste canavieiro. Alguns críticos acreditam que o
autor ajudou a construir uma nova forma de escrever fundada na "obtenção
de um ritmo oral", que foi tornada possível pela
liberdade conquistada e praticada pelos modernistas de
1922. Sua Magnum opus, Fogo Morto (1943), é visto como o
"romance dos grandes personagens." Massaud Moisés escreveu que esta
obra-prima de José Lins "é uma das mais representativas não só da ficção
dos anos 30 como
de todo o Modernismo."
BIOGRAFIA
INFÂNCIA
Nascido no Engenho Corredor, município paraibano de Pilar,
filho de João do Rego Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti (morta pelo marido
esquizofrênico), fez as primeiras letras no Colégio de Itabaiana,
no Instituto N. S. do Carmo e no Colégio Diocesano Pio X na então cidade da
Paraíba atual João Pessoa.
Depois estudou no Colégio Carneiro Leão e Osvaldo Cruz, em Recife.
Desde esse tempo revelaram-se seus pendores literários. É de 1916, por exemplo,
o primeiro contato com O Ateneu, de Raul Pompeia. Em 1918, aos dezessete anos
portanto, José Lins travou conhecimento com Machado de Assis, através do Dom Casmurro. Desde a infância, já trazia
consigo, outras raízes, do sangue e da terra, que vinham de seus pais, passando
de geração em geração por outros homens e mulheres sempre ligados ao mundo
rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos
negros rebanhos humanos que a foi formando.
JUVENTUDE E INÍCIO DA CARREIRA LITERÁRIA
Após passar sua infância no interior e ver de perto os
engenhos de açúcar perderem espaço para as usinas, provocando muitas
transformações sociais e econômicas, foi para João Pessoa, onde fez o curso secundário e
depois, para Recife, onde matriculou-se, em 1920, na
faculdade de Direito.
Nesse período, além de colaborar periodicamente com o Jornal
do Recife, fez amizade com Gilberto Freire, que o influenciou e, em
1922, fundou o semanário Dom Casmurro.
Formou-se em 1923. Durante o curso, ampliou seus contatos
com o meio literário pernambucano, tornando-se amigo de José Américo de Almeida, Osório Borba, Luís Delgado, Aníbal
Fernandes, e outros. Gilberto Freire, voltando em 1923 de uma longa temporada
de estudos universitários nos Estados Unidos, marcou uma nova fase de
influências no espírito de José Lins, através das ideias novas sobre a formação
social brasileira.
Ingressou no Ministério Público como promotor em Manhuaçu, em 1925, onde entretanto não se
demorou. Casando em 1924 com Filomena (Naná) Masa Lins do Rego, transferiu-se
em 1926 para a capital de Alagoas, onde passou a
exercer as funções de fiscal de bancos, até 1930, e fiscal de consumo, de 1931
a 1935. Em Maceió, tornou-se
colaborador do Jornal de Alagoas e passou a fazer parte do grupo de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio
Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aloísio
Branco, Carlos Paurílio e outros. Ali publicou o seu primeiro livro, Menino de engenho (1932), chave de uma
obra que se revelou de importância fundamental na história do moderno romance
brasileiro. Além das opiniões elogiosas da crítica, sobretudo de João Ribeiro,
o livro mereceu o Prêmio da Fundação Graça Aranha. Em 1933] publicou Doidinho, o segundo livro do "Ciclo da
Cana-de-Açúcar".
PERFIL DA OBRA E TRAJETÓRIA LITERÁRIA
O mundo rural do Nordeste, com as fazendas, as senzalas e os engenhos, serviu de inspiração para a obra
do autor, que publicou seu primeiro livro - Menino de engenho -
em 1932.
Em 1926 decidiu deixar para trás o trabalho como promotor
público no interior de Minas Gerais e
transferiu-se para Maceió, Alagoas. Lá conviveu com um grupo de
escritores muito especial: Graciliano Ramos (o autor de Vidas
Secas), Rachel de Queiroz (a
jovem cearense, que já publicara o romance O Quinze), o poeta Jorge de Lima, Aurélio
Buarque de Holanda (o mestre do dicionário), que se tornariam seus amigos
para sempre. Convivendo neste ambiente tão criativo, escreveu os romances Doidinho (1933)
e Bangue (1934). Daí em diante a obra de Zélins, como
era chamado, não conheceu interrupções: publicou romances, um volume de
memórias, livros de viagem, de conferências e de crônicas. E Histórias
da Velha Totônia, seu único livro para o público infanto-juvenil, lançado
em 1936.
Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro. Seus livros são adaptados
para o cinema e traduzidos na Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, foi eleito para a Academia
Brasileira de Letras.
Em 1957 José Lins morreu. Encontra-se sepultado no Cemitério
de São João Batista no Rio de Janeiro. A obra de José Lins do Rego
é publicada pela editora José
Olympio.
Trabalho realizado pela Profª Carleide Cavalcante de Oliveira